quarta-feira, 15 de junho de 2011

*A PRÉ-HISTÓRIA DO BANHEIRO


            A melhor ocasião para se ir ao banheiro é quando se está com vontade! Sempre foi assim... desde os tempos em que o banheiro era qualquer lugar escondido na imensa floresta que os ancestrais do Homem podiam enxergar de dentro da caverna. Portanto, a vontade de ir ao banheiro é bem mais antiga que a invenção do próprio.
            Talvez a necessidade de se inventar um lugar privado para as necessidades mais prementes tenha nascido exatamente nesse tempo, num dia em que, fora da caverna, estava um frio de rachar! Eu imagino o senhor Buga Uga, depois de comer sozinho uma coxa assada de mamute, começar a sentir ligeiras contrações intestinais. Mesmo tendo um cérebro primitivo, ele sabe que aquelas pontadas agudas na barriga é um sinal inequívoco de que se ele não correr, vai dar cáca ali mesmo... em cima do que restou da coxa do mamute e de quem estiver por perto! Então ele corre... mas ao chegar na porta da caverna uma lufada gelada de chuva e neve faz ele parar! Com as mãos ainda peludas apertando a barriga ele arrisca uma exclamação:
            ___ Ugalabuga! (Danou-se!)
            Com os olhos injetados de aflição ele volta para dentro e olha para o resto da tribo que já está de pé cada um com uma clava na mão. Há um murmúrio ameaçador ressoando pelas altas paredes da caverna:
            ___ Trigalá cacá! Trigalá cacá! (Se fizer aqui, a gente desce o porrete!)
            O senhor Buga Uga, então, corre para o canto mais fundo da caverna. Atrás de uma grande pedra e longe do grupo e da fogueira, ele arranca fora a pele de urso que lhe cobre a primitiva área de lazer e agacha-se. O som imitando um desesperado barrido de mamute, como se estivesse ecoando dentro de um tronco oco de árvore, ecoa em toda a caverna, provocando risos na turma que ficou em volta da fogueira.
             Abaixado e com ambas as mãos apoiadas no joelho, o senhor Buga Uga olha em volta e, com um sorrisinho meio besta, ele sente uma espécie de vergonha inaugural. Mesmo sem entender direito, ele percebe um mágico e revelador momento... estavam inventadas duas coisas que mudariam os rumos da humanidade dali pra frente: o banheiro e a constrangedora sonoplastia sanitária. Uma força estranha leva-o ao desejo de registrar aquele momento. Então ele pega um pedaço de pedra lascada e com ela faz inscrições rupestres na grande rocha que o mantém na privacidade.
             Mais uma descoberta: a literatura de parede de banheiro! Aos olhos de um leigo as inscrições pareceriam incompreensíveis, mas um arqueólogo experimentado veria um significado bem maior naqueles desenhos simples e de formato pedagógico.
            De repente, o senhor Buga Uga escuta um vozerio vindo do outro lado da grande pedra:
            ___ Ugaladá! Ugaladá! (Eu também! Eu também!)
            Ainda agachadinho, mas quase que completamente aliviado de suas aflições intestinais, o senhor Buga Uga interrompe sua arte rupestre e grita:
            ___ Jagaladá! (Tem gente!)
            Pronto... mais uma descoberta: a fila do banheiro!
              O resto é história...

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