quinta-feira, 9 de junho de 2011

* EU TE AMEI, PROFESSORA!



Nunca me esqueci
Da primeira vez que a vi.
Primeiro dia de aula e
Você entrou na classe
Deixando cair uma
Folha de planta que
Marcava as páginas
De seu livro.
"Sua folha caiu, professora!"
Disse eu dobrando o
Vigor de minha juventude e
Apanhando a pequena folha.
Nunca me esqueci
Da primeira vez que a vi.
Meus olhos vidraram arregalados.
Minha caneta mordida
Caiu no assoalho e
Meu chicle de bola
Entalou-me a garganta. Engoli!
Nunca me esqueci, professora!
Ainda sinto o chicle
Grudado em minha alma.
Você nos olhou
Com olhos de mestra.
Mas apenas eu percebi
Seus olhos de deusa:
Dois fios de espada
Cortando-me em dois...
Ambos apaixonados, professora!


A partir de então,
Feito um maluco aprendiz
Tomei como prece
Cada palavra sua e...
Comecei a aprender.

Em Português,
Aprendi a ser um
Sujeito oculto,
Cujo melhor predicado
Era ter você como um
Objeto direto.
Você, professora, foi o
Termo essencial de
Todas as minhas orações.
Para mim você
Foi um substantivo
Repleto de adjetivos.
Eu fui apenas o
Verbo amar, com a
Certeza de que não
Seria a primeira
Pessoa a conjugá-lo
Na gramática dos
Seus sentimentos.
Mas eu, sozinho,
Conjugava-o todos os dias.

Em matemática,
Aprendi a vê-la como uma
Grandeza incomensurável
Que, todos os dias,
Reduzia-me a uma fração ordinária.
Irredutível na ânsia de
Vê-la como o mais
Perfeito conjunto de
Elementos fascinantes.
Por sua causa, professora,
Caminhei loucamente por
Figuras geométricas cristalinas,
Sob seus olhos me projetando
Equações simples que,
Mesmo sendo eu o X da questão,
Não conseguia resolvê-las.

Em Ciências,
Aprendi que você foi o
Mais formidável e
Irretocável aglomerado de
Células em movimento.
Um fantástico conjunto
De cabeça, tronco e membros
Que, harmoniosamente,
Geravam calor,
Eletricidade e magnetismo.
Sua voz, professora,
Partia em minha direção
Provocando ondas sonoras
tão envolventes,
Que minhas forças me
Abandonavam e a minha
Lei da Gravidade
Invariavelmente
Caia por terra.
Sem dúvida, entre os
Seres vivos que conheci,
Você foi o mais belo espécime
De mamífero vertebrado.
Mas às vezes, professora,
Você era uma ave a voar
Pelos céus da minha imaginação.
Eu, apenas um réptil
Rastejando em sua sombra.


Em Geografia,
Aprendi que você, professora,
Foi um território precioso,
Formado por planaltos
Ondulados e de
Altitudes modestas.
À noite, meus sonhos me
Levavam a caminhar
Como um lacaio perdido
Pelas elevações insinuantes
Do seu corpo, o mais
Deslumbrante acidente
Geográfico, no qual
Fui eu a única vítima.
Nesses sonhos, professora,
Eu corria feliz por
Colinas maliciosas e me
Perdia sorrateiro
Pelos deliciosos mistérios
De cavernas infinitas.
Deslizava suavemente por
Vales perfumados e me
Aquecia no deserto cálido
Do seu ventre acolhedor.
Acordava com a minha costa
Banhada pelo oceano de meu suor.
Você foi uma ilha, professora,
Cercada de eu por todos os lados.

Em História,
Aprendi a proclamá-la
Meu primeiro grande descobrimento.
Ao atracar minha caravela,
Aspirei uma brisa fresca e
Senti o seu aroma.
Eu não sabia exatamente
O que estava descobrindo.
Mas ao perceber que
Meu coração disparava e
Meu rosto ficava
Tal qual cor de brasa
Decidi chamá-la de Amor.
Com isso, abdiquei de meu trono
De um distante reinado infantil e
Passei a viver em
Regime de escravatura
Onde eu fui um moleque
A espera de uma princesa
Que assinasse minha abolição.

Se eu tivesse aulas de
Astronomia
Com certeza aprenderia a
Vê-la como um sol,
Em volta do qual eu viveria
A orbitar em insistentes
Movimentos de translação, me
Transformando em dia, me
Transformando em noite, me
Transformando em um
Astro perdido e apaixonado,
Vagando pelo Universo
Infinito do Amor.


Mas sabe, professora,
A lição mais importante
Que eu aprendi com você
Foi a de que o amor,
Longe de ser um anjo
Atirando flechas,
É de fato um sujeito oculto
Nos becos da vida à espera
De sujeitos indeterminados
Para assaltá-los e envolvê-los.
Foi muito estranho para mim
Esse amor, professora!
Quando eu esperava que
Ele se apresentasse
Com a simplicidade de
Uma tabuada do dois,
Ele chegou de repente
Como uma equação insolúvel.
Quando eu pensava que
Ele fosse um planalto ondulado,
Onde eu pudesse correr livre,
Ele se mostrou um abismo
Com escarpas pontiagudas
Que me feriram o coração.
Quando eu julgava ser o amor
Um pássaro de belas plumagens,
Ele veio a mim como uma
Ave de rapina, cujas garras
Alçaram-me para longe.
Quando eu decidi ser o amor
Meu primeiro grande descobrimento,
Achei que estava aportando
Numa terra de homens livres.
Enganei-me e reduzi-me
A condição de escravo.

Hoje, professora,
Depois de tantos anos,
Eu continuo sendo
Um sujeito oculto
Sem nenhum predicado.
Mas você, embora já
Esteja pelos corredores da
Eternidade, continua
Sendo o termo essencial
De todas as minhas orações.
Minha equação, até hoje,
Continua insolúvel
E eu nunca mais consegui
Sair daquele
Abismo profundo.
Ainda sinto as garras
Afiadas e rapinantes a
Cravarem-me todo o corpo
E já perdi as esperanças
De algum dia aparecer
Alguma princesa para
Assinar a minha abolição.


Agora só me resta ficar,
Todas as tardes,
Sentado neste banco de praça
Atirando resíduos de
Lembranças às minhas
Amigas pombas.
Minhas mãos trêmulas
Que, um dia escreveu
Poemas pra você, professora,
Hoje, artríticas, não
Conseguem aparar
Este resto de vida
Que insiste em escoar
Pelo ralo do tempo.

Uma folha de planta
Empurrada por este
Vento de outono
Vem cair aos meus pés,
Trazendo-me doces e
Amargas lembranças.
Dobro a minha velhice e
Apanho a folhinha do chão.
"Sua folha caiu, professora!"
Digo olhando para o céu
Na inútil esperança de vê-la
Em algum supletivo celeste
Dando aulas para anjos atrasados.
... como o tempo passa, professora!
Ah! Esse vento de outono
Que agora balança o
Meu cachecol e
Uiva baixinho em
Meus ouvidos me
Faz lembrar um
Sussurro suave da
Morte a me avisar
Que ela está por perto.


Pois que venha!
Meus braços cansados
Estarão abertos para
Recebê-la com a mais
Extrema alegria.
Só assim poderei
Reencontrá-la professora e
Desta vez não perderei
A doce oportunidade de
Olhar em seus olhos e dizer:
"Como eu te amei, professora!"
                                 

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