sexta-feira, 24 de junho de 2011

* O MANÍACO

         Numa ligeira fração de segundo, a primeira e inevitável idéia que lhe ocorreu foi a de levá-la para seu sofá, em seu escritório. Era naquele sofá que ele conseguia fazer transbordar a impetuosidade dos gozos mais extremos, que jorravam da consumação dos seus mais perniciosos e subterrâneos desejos. Foi ali que ele, aspirando hálitos tutti-fruti e ouvindo gritos lancinantes de uma dor inédita, tomou posse de terras intocadas. Foi ali que ele, muitas vezes, aspirando aromas de alfazema e canela, deu asas à sua imaginação onanista e vibrou de prazer, penetrando impiedosamente por cavernas virgens e ouvindo gritos lancinantes e incomuns.
         Sim! Ele a levaria para aquele sofá! Mas, antes, lançou sobre ela um olhar espacial, cuja visão rapinante cobriu maliciosamente todos os quadrantes daquelas pequenas e delicadas curvas. Aproximou as narinas, já ofegantes, e aspirou um perfume envolvente que, de imediato, provocou-lhe um desmedido e voraz apetite. Pensou em agarrá-la, mas se conteve! Tocou-a, deslizando suavemente a ponta dos dedos e sentiu, trêmulo, o viço de uma pele tenra, rósea. Com a ponta da língua, riscou um arrepio de saliva naquele corpo maduro, que lhe trouxe à memória as mais deliciosas e libidinosas lembranças... oh! amores ilícitos, furtivos, transidos de prazer... oh! arrepios arredios de corpos suados, arranhados, viscosos... oh! gemidos doloridos, assustados, estupefatos...
         Segurou-a com a força de mãos degeneradas e num impulso incontrolável jogou-se no sofá agarrado a ela. Dominou-a, subestimou-a e envolveu-a com seu hálito de anteontem e, com seu olhar de ogro que amedronta... mordeu-a! A princípio, apenas uma ligeira pressão de seus dentes naquela pele viçosa. Salivou feito um lobo, lambeu-lhe o sumo adocicado e mordeu-a novamente, mastigando lembranças de frutos proibidos.
         Adorava mastigar e lembrar, mastigar e lembrar...
         Não perderia nunca aquela mania de comer maçã
deitado no sofá...

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